domingo, 19 de março de 2023

Resposta


Hey,

Tem algumas semanas que venho pensando em te escrever mais, ainda não decidi como fazer e o que colocar aqui, mas a essa vontade tem ficado cada vez maior. Lembra quando digo que costumo escrever quando tenho dificuldade em falar TUDO que me passa a cabeça ou não sei bem como dizer? 
Tenho me sentido assim ultimamente, e sinceramente não sei se você vai me ler. Mas não custa tentar, ao menos toda essa vontade de deixar o que venho pensando de uma maneira um pouco mais claro também faça parte da resposta em que te disse por partes, mas agora como um todo. Sim, eu sei que já tem um tempo mas é claro que continuo lembrando de ti pois ainda assim e mesmo longe se faz presente. 
Tenho lembrado de ti inclusive nas aulas; minha professora de semiótica (uma matéria em que tenho certeza que você iria gostar) SEMPRE cita a parte qual você estuda e é amante de neuro. 
Só passei pra dizer que logo te escrevo, até semana que vem eu te conto e termino assim:

O olho vê

o olho vê
a lembrança re-vê
a imaginação que trans-vê

Transfigura o mundo, 
Que faz o mundo.


Manoel de Barros


domingo, 20 de novembro de 2022

Letícia


    Pergunta pro orientador: quando eu sinto o cheiro dele e o coração fica quentinho é condicionamento ou memória afetiva? 
E é assim que começo a te escrever; sentindo o teu cheiro e com o coração quentinho, é assim que quero ficar, e em caso de dúvida eu pergunto pra ti qual a diferença de condicionamento e memória afetiva, no calor do teu colo. 
Sabe, quando você me mandou essa mensagem eu fiquei todo sem jeito e com o um sorriso daqueles que você tenta esconder mas todo mundo ao redor vê. 
Venho aqui pra te escrever mais uma vez sobre TUDO que sinto por você.


Sentir
verbo

1. Transitivo direto
ter a sensação de; perceber por meio dos sentidos
2. Intransitivo
ter a capacidade de percepção, consciência, sensibilidade (física ou moral)

Sentimento
substantivo masculino

1. ato ou efeito de sentir(-se)
2. aptidão para sentir, disposição para se comover, se impressionar, perceber e apreciar algo.

Amor
substantivo masculino
1. forte afeição por outra pessoa, nascida de laços de consanguinidade ou de relações 
2. atração baseada no desejo sexual.


Tudo que venho sentindo por ti eu não demonstrei o bastante, pequei ao não falar e ser racional demais nos momentos onde a razão deveria se perder e dar voz ao coração, aos meus sentimentos por ti. Entenda, eu tive dúvidas em como deveria agir e como demonstrar todos os sentimentos que tenho por ti, mas em nenhum momento sobre o que eles significam. 
Eu discordo da tradução sobre o que é amor, ser apenas a afeição por outra pessoa ou simplesmente o desejo sexual é algo MUITO raso. Vou contar a definição de amor no que sinto por você:
 É sentir meu coração ficando quentinho quando você tá perto, mesmo ao seu lado ele não para de demonstrar em meu corpo, seja com o brilho do olhar quando te vejo, o calor quando seguro tuas mãos e sinto teu cheiro, a maneira calma e reconfortante em ouvir tua voz, da vontade de não ir embora, de querer ficar em teus braços conversando bobagens, de ouvir tuas risadas em TODA piada ruim que faço, é o desejo de ficar olhando teus olhos de jabuticaba enquanto o sol vai ficando cada vez mais ardido na sacada. É o desejo de ficar, a maneira do olhar, é ter sentir a boca ficando seca e as borboletas no estômago sabendo que tá quase na hora de te ver, "amor é fogo que arde sem se ver" como diria Camões. 

Como diria Camões em seu total poema: 

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor.


Mas eu prefiro Neruda em seu dizer sobre Amor; 

Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio.

Eu te amo para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.

Te amo e não te amo como se tivesse
em minhas mãos as chaves da fortuna
e um incerto destino desafortunado.

Meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.

Às vezes me sinto raso demais perto da definição de como eles definem a visão deles de amor que é uma mistura de sentimentos e dor. Se amar também causa dor? Sim... Basta a distância entre nós e tudo que sinto por ti por não expressei me vem junto com um dor enorme, sei que é mea culpa, mas nem por isso quero parar de sentir o que sinto por ti. 
Tem horas como agora em que:

"20 ligações no celular
já não sei se você quer me atender
não sou o melhor
mas amo o teu jeito de ser".

Isso é Baco, e muito provavelmente você deve tá se perguntando como eu fui de Camões e Neruda pra Baco? (essa não é a letra original)
Essa é a vontade que tenho, de te ligar e deixar as vinte ligações no teu celular (um exagero) ao menos pra ouvir tua voz e perguntar como foi o teu dia, se você tá bem e em busca disso tudo buscar teu conforto. 
E claro, poder te dizer no final antes de desligar que EU TE AMO, Letícia.
É verdade que não te liguei, e de novo sinto a culpa por essa e tantas outras maneiras que deveria ter me permitido viver por completo com você. 
E sim, TE AMO em todos os sentidos, de todas as formas e maneiras (im)possíveis, também sei que é uma confissão na qual deveria ter falado ou ligado antes, mas lá no fundo eu sinto que não muda a minha maneira de te amar. 

Esse texto vem como uma confissão: do amor que tenho por você e por TODA falta que me faz, ele tá longe de ser o melhor, mas de maneira singela ao menos posso demonstrar um pouco do que sinto por você, continuo em dizer que a saudade tem seu nome, "eu gosto muito de você, meu bem, te amo."


sábado, 5 de novembro de 2022

Morada

    Sabe, já tem muito tempo que tenho tentado escrever pra ti tudo que quero e a verdade é simples: É difícil pra caralho dizer o que sinto e quem você é. Na maior parte das vezes em que venho pra cá escrever acabo dizendo tudo que queria e deixei passar por não ter tido, e você foi além...
Além dos mais simples e melhores momentos que posso pedir a alguém. Eu não sou de pedir, mas se fosse pedir eu faria da mesma maneira que você faz: "tô pedindo porque....".
Eu adoro os menores detalhes que enxergo em ti, e digo isso porque me atento até a maneira como fala, como conversa olhando nos meus olhos com toda calma do mundo e toda sútil. Essa saudade tem seu nome, e junto com ele vem todas as vezes que acordei ao seu lado e te via toda bela, indiferente de tudo que já vi ou tenha vivido. 
O que tô tentando dizer é da falta que me faz, e como faz! A falta do teu cheiro e até a falta de abrir a porta do elevador e saber que tinha chego no seu andar pois de longe já sentia teu cheiro, e não tô falando do teu perfume muito menos do amaciante; pois nas vezes em que eu dizia: "Tô sentindo teu cheiro lá de fora! -É do amaciante", você falava sorrindo. 
Eu sinto falta das tuas expressões quando contava algo novo e da maneira como fica empolgada me ouvindo contar uma história qualquer na sacada com uma xícara de café ao lado, que acabará escanteado enquanto eu me perdia  meios aos teus braços e me perdia em teus lábios. 
Sabe, não sei em qual parte paramos na nossa tentativa de desbravar as áreas verdes do centro e do batel, entre as paradas pra ver algo que te chamava atenção seja uma flor ou uma casa antiga onde você falava: "sempre quis morar numa casa dessas, mas se for muito grande dá muito trabalho e não quero ficar o dia inteiro limpando", teu lado Mônica aparecia nesses momentos, e eu continuaria te ajudando a limpar, só faltou escolher uma delas. 
Gosto de como você entrelaça seus dedos no meu e como da maneira em que deita sob meu peito, apesar de querer saber se estou confortável contigo: É claro que sim, você é meu conforto. Gosto dessa sensação de conforto e que tá tudo bem enquanto estou em seus braços, te dando um cheiro enquanto sinto teu corpo sob o meu. Corpo... Gosto da maneira como teu corpo encaixa no meu, gosto do teu calor, de desbravar todo teu corpo e juntar os pontos em forma de pintas que você tem espalhada, de podê-lo desenhar e nomear de qual galáxia se faz presente, essa é a única maneira d'eu gostar de desenhar. 
Gosto da tua voz, dos tons que ela toma durante tuas histórias sob o laboratório, da maneira como você fala baixinho quando tá perto e de como tudo muda quando você solta um palavrão.
Gosto de te ter ao meu lado, acordar ao seu lado, gosto do teu abraço quentinho logo ao dizer bom dia junto do teu beijo; da maneira que pergunta se eu dormi bem e se conseguir descansar e de todas as fotos que você tirava enquanto eu dormia, fora as outras tentativas que eu percebia e me escondia. 
Eu odeio fotos, e nesse momento pago com a língua por não gostar, porque raras fotos com você ao meu lado e eu pouco importo de aparecer nelas ou não, quero ter tua lembrança, lembrança de que tudo deu certo nesse dia. 
Dia, dias como hoje são os mais difíceis de suportar sem tua presença, você é a parte que me faz falta, e nos dias de hoje que tínhamos pra nós as lembranças vem feito um coice e ainda não aprendi a lidar.
252 é a quantidade de dias em que nos conhecemos, os primeiro 05 foram me encantado com tua forma até teu convite, convite que mudou toda essa relação de dias; durante todo esse tempo eu me joguei em você, fui de 0-100 km em instantes e me deixei levar contigo. E olha, foi a parte em que me senti mais vivo, senti de todas as formas. Sei que entre esses dias eu também fui omisso, e por muitas vezes pareci confuso. E sim, eu sempre tive problemas em tentar me relacionar com as pessoas no geral, em como deixar levar com todas as ressalvas e aproveitar cada momento. Mas não tenho dúvida alguma sobre o que sinto por você, todas essas ressalvas acima eu deixava em segundo plano, até porque eu gosto de você. 
Sinto com tua ausência e na sua ausência a falta que faz, e pela falta qual me disse que não existia interesse no que faz. 
Sim, nisso eu fui omisso e basta apenas eu olhar nossas conversas lá trás no começo pra ver que meu interesse se fez presente desde o primeiro dia e como foi se apagando com o tempo, eu não senti que estava perdendo esse interesse e junto com ele você.
Sinto pela falta que me faz... Sinto pela minha culpa e que não consegui evitar.
Eu me lembro de uma fala tua: "Sou quem sou porque me lembro quem sou
Mas, também, porque se lembram de mim" - Ivan Izquierdo.
A frase do orientador do teu orientador, eu sempre vou lembrar de ti pela maneira em que é e se faz presente, de forma brilhante e como um amor, meu amor.
Também descobri que essa frase citada acima se faz dessa aqui:“Somos exatamente o que nos lembramos e também somos aquilo que não queremos lembrar” - Jorge Luis Borges.
Jorge era um dos escritores favoritos de Ivan, um dos meus também... Descobri por acaso, e gostaria de poder citar essas frases ao teu lado. 
Sabe, eu poderia citar Fernando Pessoa, Balzac e Bukwoski, e com eles todas as partes em que me pego pensando na vida e sob o que é o amor, mas  justo hoje tudo que eles falam não faz sentido. A única procura em que busco sentido é em você, a parte em que me faz falta. 

Buk diria: "O que eu odiava era que algum dia tudo se reduziria a nada, os amores, os poemas, os gladíolos. Acabaríamos recheados de terra como um taco barato."

Balzac diria: "
O amor é a poesia dos sentidos. Ou é sublime, ou não existe. Quando existe, existe para sempre e vai crescendo dia a dia." Balzac é sem graça pra caralho, mas ele tem seus momentos. 

Fernando Pessoa diria: 

 Presságio

 O AMOR, quando se revela,
 Não se sabe revelar.
 Sabe bem olhar p'ra ela,
 Mas não lhe sabe falar.
 
 Quem quer dizer o que sente
 Não sabe o que há de dizer.
 Fala: parece que mente...
 Cala: parece esquecer...
 
 Ah, mas se ela adivinhasse,
 Se pudesse ouvir o olhar, 
 E se um olhar lhe bastasse
 P'ra saber que a estão a amar!
 
 Mas quem sente muito, cala;
 Quem quer dizer quanto sente
 Fica sem alma nem fala,
 Fica só, inteiramente!
 
 Mas se isto puder contar-lhe
 O que não lhe ouso contar,
 Já não terei que falar-lhe
 Porque lhe estou a falar...

Eu prefiro essa maneira, da mesma maneira em que te disse: 
"Você é a parte em que tenho em mim todos os sonhos do mundo, até pelo que temos e compartilhamos, independente do que seja eu quero que tu sempre tenha o mundo e brigue por tudo que te faz parte. "
Sim, essa é a verdade sobre que tenho pra ti, a parte em que me faz falta. 
E a segunda parte que não posso deixar passar é:
"O coração tem razões que a própria razão desconhece." 

Eu te disse isso na primeira vez que saímos e um pouco antes da tequila. 
O que importa é a que ela pode explicar: não sabemos quando vai acontecer e como vai acontecer, e que essas razões aparecem de maneira diferente do que é a razão. 
Não sabia que iria me apaixonar por você, muito menos sentir todo o turbilhão de sentimentos que vem em sequência, muito menos ainda como entender tudo isso. Mas a melhor parte foi ter você, e ter sentido tudo isso por você, Letícia. 
Sinceramente eu não entendia e não sabia que toda essa intensidade vinha pelo que sinto por ti, por isso me expressei aqui brevemente falando o quanto eu "sinto" por tudo que temos. 
Sabe, eu queria te escrever o melhor texto que conseguiria, pois você o merece. 
Eu sinto que não deveria ter hesitado em dizer: EU TE AMO

Teu nome

Faz do meu peito morada
Do meu corpo teus passos
Da sua dor minhas feridas.
Faz do vento Silêncio;
Que o vento trás
E mostra os erros
Talhados n'alma
Na ferida que dói
Censura de teu nome

Saudades
Não vividas
Tão vívidas
Ausentes

Clara aos olhos
Lúcida aos ouvidos
Altiva aos pensamentos
Ruiva a paixão
Assim.

É assim que termino meu primeiro texto pra você, com um caminhão de saudades e lá no fundo pensando:

"Volta ligeira qu'eu tô te esperando.
Eu te pinto um quadro 
E tu me ensina um tango
Mas vem depressa que eu passei um café."



quarta-feira, 14 de agosto de 2019

C'est tout près


           Cá estou, onde sumo e reapareço, pra onde venho descontar as magoas criadas pelo mundo e a mim tratadas. É, faz tempo, tempo este em que não soube agir, fiquei inquieto e sem saber o que lhe escrever ou na razão por qual iria me afogar dessa vez. Não, não me afoguei. Não aqui, mas talvez em todos meus desenhos que vestem preto, que escorrem a tinta preta pelas marcas d'água que eram pra ser lágrimas. 

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Efêmera



              Já não sou tão íntimo de vir até aqui escrever o que se passa nessa confusão de pensamentos e sentimentos, sinto como se estivesse contando todos meus pecados a um padre e recebendo minha penitência em forma de versos, histórias e sentimentos através de meus dedos calejados já sem unhas, problema qual a ansiedade e o vício me deram.
Tem alguns anos que não me confessava a alguém, que torna-se
 incômodo de minha parte, mas venho aqui me expressar não só por culpa e por vontade de querer contar o que me corrói por dentro. 
                Sábado... Um daqueles dias monótonos porém esperado durante toda semana, o dia acaba não importando quando o que realmente mais espero é ler tua resposta ou qual vai ser o próximo assunto a passarmos horas ou minutos falando sobre os filmes que você assiste e não dorme por querer terminar o que está fazendo ou os vários pesadelos e preocupações que já veio a ter e ainda vivem em você.
Aos poucos vou entendendo as tuas vontades em meio aos desencontros em forma de olhares, provocados e atraídos pela tua forma de falar, calma e tranquila que me conta por onde deixou seus momentos tardios. Ao cruzar seu olhar me deparo com teus olhos pequenos e que estão dilatados, porém claros, talvez eles sejam castanho-claros ou cor de mel, me perdoe se estiver errado, mas estávamos no meio da madrugada e a luz já não era das melhores, mas em meio dos reflexos você estava ali parada contando suas melhores histórias e falando cada vez mais baixo com intuito de atrair-me até seu lado e confesso que isso é um golpe sujo que funciona brilhantemente. Cada vez mais estávamos próximos e pude sentir teu cheiro, um perfume suave e reconfortante que combina com teu abraço do qual pude me aproveitar por duas vezes. Em meio aos copos vazios você balançava teus dedos sob a mesa de forma com que estivessem tocando uma canção, isso me fez perceber que tua mão é pequena e frágil assim como você foi em alguns momentos dos quais não pude fazer nada, apenas ouvi-los e refletir.
Algumas horas depois e continuávamos parados sob o mesmo lugar, conversando cada vez mais e íntimos por um instante. Mas reforço que seu olhar me deixou incomodado, em cada vez que eu o encontrava me sentia atraído por sua forma, desde as diferentes maneiras qual você mexia o cabelo de um lado pro outro. Ou as inúmeras vezes em que você mordia seus lábios enquanto eu falava, algo que repetia-se entre nós. Eu prestava toda atenção em você falando, e como o tempo passa extremamente rápido quando você fala...Que não existem besteiras quando você está por perto. Quando você me explica cada curso que você já fez e não terminou, aquele um ano aprendendo japonês ou os vários outros no inglês e espanhol que não te serviram pra nada, até mesmo dos seis anos que você passou fazendo ballet e apresentando-se em vários lugares diferentes dos quais eu não sabia nem que existiam. Mas o mais importante mesmo é ver toda sua vontade em seguir teu caminho, por mais longo e distante que ele seja, que os quase três anos estudando fora só te trouxeram a certeza do que tu queres pra você.
            Que o fim foi não ter conhecido teus gostos, teus desenhos e livros favoritos, mas que depois de ter passado toda madrugada contigo, nos tornamos íntimos de maneira breve e passageira sem mesmo não tendo te beijado, mesmo depois de todas as manias me faltou coragem e me sobra tempo pra contar esse pecado que tem teu nome e que eu cometi.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Amor

Soneto 116

De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.

W. Shakespeare

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016


Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
7-11-1915
“Poemas Inconjuntos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).
  - 87.
1ª publ. in “Poemas Inconjuntos”. In Athena, nº 5. Lisboa: Fev. 1925.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A realidade não precisa de mim...




Se eu soubesse que amanhã morria
E a primavera é depois de amanhã
Se eu soubesse que amanhã morria
E a primavera é depois de amanhã
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã
Se esse é seu tempo, quando havia ela de vir
senão no seu tempo?
Se esse é seu tempo, quando havia ela de vir
senão no seu tempo?

A realidade não precisa de mim
A realidade não precisa de mim
A realidade não precisa de mim
A realidade não precisa de mim

Se eu soubesse que amanhã morria
E a primavera é depois de amanhã
Se eu soubesse que amanhã morria
E a primavera é depois de amanhã
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã
Se esse é seu tempo, quando havia ela de vir
senão no seu tempo?
Se esse é seu tempo, quando havia ela de vir
senão no seu tempo?
Se esse é seu tempo, quando havia ela de vir
senão no seu tempo?

A realidade não precisa de mim
A realidade não precisa de mim
A realidade não precisa de mim
A realidade não precisa de mim

É melhor ser alegre que ser
Triste
Alegria é a melhor coisa que
Existe
É assim como a luz no coração
Põe um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
O poder que tem um samba
Não, porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser tão triste
Não
Tão triste
Não
Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba sim não é de nada
Um bom samba é uma forma de oração
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é preto demais no coração
No coração, no coração
No coração

Se eu soubesse que amanhã morria
E a primavera é depois de amanhã
Se eu soubesse que amanhã morria
E a primavera é depois de amanhã
Se eu soubesse que amanhã morria
E a primavera é depois de amanhã
(Morreria contente porque ela era depois de amanhã)
Se eu soubesse que amanhã morria
E a primavera é depois de amanhã
(Se esse é seu tempo, quando havia ela de vir
senão no seu tempo?)
Morreria contente porque ela era depois de amanhã
Se esse é seu tempo, quando havia ela de vir
senão no seu tempo?

A realidade não precisa de mim
A realidade não precisa de mim
A realidade não precisa de mim
A realidade não precisa de mim
A realidade, não precisa de mim
A realidade não precisa de mim